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Pauta racial ganha destaque nos filmes de Hollywood

  • Foto do escritor: Giovana Costa
    Giovana Costa
  • 28 de dez. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 5 de jun. de 2023

Produções como “Moonlight” e “Eu não sou seu negro” retratam as causas negras.

Após as polêmicas denúncias de racismo pelas indicações do Oscar 2015, novos filmes protagonizados por atores negros ganham espaço. Em 2015, grandes produções como “Straight Outta Compton: A História do N.W.A.” – filme sobre a cena do rap dos anos 1980 – e “Creed: Nascido Para Lutar” – retomada da franquia “Rocky" –, foram esnobadas pela Academia, que somente deu espaço para produções com protagonismo branco. Porém, no ano passado, filmes voltados para as causas negras ganharam espaço, respeito do público, reconhecimento da crítica e inclusive, indicações no Oscar 2017.


“Moonlight”: vencedor do Oscar de “Melhor filme” em 2016.

Os grandes destaques desse ano são “Moonlight”, dirigido por Barry Jenkins, ganhador do Oscar 2017 de “Melhor filme”, e o aclamado documentário, também indicado ao Oscar 2017, “Eu não sou seu negro”, dirigido por Raoul Peck. Ambas as produções pautam-se das dificuldades enfrentadas pela população negra, que se encontra numa sociedade construída através de moldes arcaicos, conservadores e absurdamente racistas.

“Moonlight” traz valiosas discussões sobre bullying, racismo e homofobia. O longa retrata a vida de um tímido garoto, Chiron, apelidado de “Little” (pequeno). É dividido em momentos distintos da vida do protagonista - respectivamente a infância (interpretada por Alex Hibbert), a adolescência (interpretada por Ashton Sanders) e a fase adulta (interpretada por Trevante Rhodes). O menino mora numa comunidade pobre de Miami, nos Estados Unidos, onde as drogas ganharam destaque durante os anos 1980. Ele se encontra num núcleo familiar problemático, vive com sua mãe, uma mulher pobre, viciada em crack (interpretada por Naomie Harris), e desde novo, sofre com os colegas de escola que o tacham de "bicha" (em inglês, faggie, como ele é chamado em grande parte da sua infância).

A história de Chiron é contada num tom introspectivo, e as dificuldades pelas quais o protagonista passa são potencializadas pelo preconceito que sofre por ser negro. Numa sociedade estruturada pelo machismo e pelo racismo, os direitos LGBTQIAP+’s são massacrados. Chiron sofre bullying na escola durante a infância e a adolescência e nem mesmo durante sua vida adulta ele consegue se libertar, passa sua vida inteira escondendo sua sexualidade reprimida. De forma sensível e ao mesmo tempo muito impactante, o público encara a dor da repressão sofrida por Chiron: de acordo com a sociedade, um homem negro precisa afirmar sua heterossexualidade a todo momento, não há espaço para delicadeza, muito menos para a homossexualidade.

"A história do negro nos EUA é a história dos EUA. Não é uma história bonita", de acordo com o romancista norte-americano James Baldwin, responsável pelo manuscrito inacabado “Remember this house”. Com cerca de 30 páginas, o manuscrito de Baldwin aborda questões relacionadas ao sistema segregacionista nos EUA, tendo como ponto de partida memórias sobre os três líderes negros assassinados entre 1963 e 1968: Medgar Evers em 1963, Malcolm X em 1965 e Martin Luther King em 1968. Utilizando-se apenas do texto de Baldwin (narrado pela poderosa voz do ator Samuel L. Jackson), o diretor Raoul Peck deu continuidade ao manuscrito. O documentário “Eu não sou seu negro” de Peck é a continuidade do manuscrito de Baldwin.

O longa recorre também a entrevistas dadas pelo autor nos anos 1960, além de trechos de outros filmes hollywoodianos que sinalizam a predominância de heróis brancos. Há também partes de reportagens sobre movimentos como “Black Lives Matter” (contra a violência policial), e até fotografias mostrando os asquerosos cartazes segregacionistas contra a integração racial em 1957.


Documentário dá continuidade ao manuscrito de James Baldwin.

A intenção de Baldwin era contrapor a vida desses líderes, para que elas se revelassem mutuamente como imagens claras do racismo da sociedade, ainda que fossem personalidades muito distintas entre si. Baldwin retrata as questões raciais partindo de um sentimento de reconciliação e principalmente de entendimento sobre o ódio e a apatia que estruturam a sociedade americana durante os anos 1960.

Ambas as produções retomam questões muito importantes, cada uma seguindo suas particularidades e que precisam ser mais debatidas. Seja "Moonlight" trazendo questões sobre a sexualidade e o preconceito. Ou então, "Eu não sou seu negro" retomando o racismo e a segregação. Além de quebrarem o padrão excludente do Oscar, foram responsáveis por reavivar a memória da sociedade, lembrando-a de toda a violência que cometeu e ainda comete contra a população negra. São lembretes muito bem produzidos de que a luta negra não acabou e ainda resiste.

 
 
 

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