[CRÔNICA] Encanto cosmopolita
- Giovana Costa
- 28 de dez. de 2019
- 2 min de leitura

Houve um tempo em que andar pelas ruas causava estranhamento. Transpor os limites da casa era provocação para muitos citadinos, talvez até mesmo ousadia demais. Habitar a cidade, percorrê-la, traduzi-la nunca foi tarefa fácil, na verdade. Pra quê expor-se aos perigos da imprevisibilidade da cidade, quando em casa existe o conforto da estabilidade de não correr riscos? Pois a vida nos exige conhecer o núcleo desconexo que é a cidade, percorrer suas avenidas, observar suas contradições e conviver com as suas peculiaridades.
Ela nos desafia todos os dias, seja lidando com seu cenário caótico e repleto de pessoas, seja tentando realizar tudo o que o dia promete, dentro do tempo desejado. Pois se há alguma certeza sobre ela, é que o tempo aqui passa depressa e é preciso estar atento, ser “ligeiro” e “apressar o passo”. A cidade é terra de oportunidades, é trama de histórias e palco de desigualdades. É aquela moradia que por mais que não seja tão perfeita visualmente, mesmo assim, traz um aconchego único, um acolhimento especial, diferente de tudo que você poderia imaginar. E acredite, imperfeições não faltam nesse emaranhado de acontecimentos, mas também há muito que desperte fascinação por ela.
Trata-se de uma confusão urbana. Prédios gigantes, carros por toda parte estações de metrô a todo vapor, casinhas simples, pequenos gestos de carinho, ônibus cheios por toda parte, xícaras de café, árvores repletas de flores vibrantes. Uma verdadeira paisagem humana: orientais, senhoras, negros, homens, famintos, imigrantes, crianças, gente bem vestida. Todos passando de lá pra cá. Pessoas tranquilas caminhando nos parques, gente afobada correndo a caminho do trabalho no centro, mendigos invisíveis nas calçadas a espera de uma esmola. Esta é a cidade, uma diversidade de ações, pessoas e hábitos. Onde há aqueles que nem se olham, mas há também os que se esbarram. Tem empatia, tem arrogância, tem quem olhe pelo próximo, tem quem julgue pela roupa. Berço da periferia, parque de diversão dos empresários. Dualidades únicas da cidade.
Mas o que encanta de verdade é a realidade. Não há somente a ação de existir, mas também a vida propriamente dita. A vida é representada muito bem e apresentada de forma real, seja por essas dualidades, seja pelos acontecimentos, nada pode ser ocultado aqui. Há visões de mundo e histórias completamente diferentes que podem ser vistas facilmente, tanto na arquitetura, quanto nas expressões faciais de quem passa por ela. A vida move a cidade e é movida por ela. É preciso parar para admirá-la e perceber toda sua subjetividade e magnitude, com certeza se trata de um exercício essencial, uma experiência de tirar o fôlego, vale a pena tentar.
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